Um corretor de valores vivia para atingir metas. Quando não conseguia, entrava em um aplicativo de encontros e transava com mulheres sem jamais estabelecer vínculos (ou mesmo contato visual) e, na hora de ter um orgasmo, pensava em seu desempenho profissional, que julgava insatisfatório quando comparado com o de um colega do trabalho.
Para esse homem, talvez sexo fosse apenas sexo. Sem conversa, sem afeto, sem continuidade. Mas se pensarmos no que o motivava a procurar por ele, concluímos com facilidade que seu desejo era atravessado pelo enredo social e por culpas, traumas e angústias.
Trazendo como exemplo esse e inúmeros outros pacientes —e mais histórias analisadas em um vasto material de pesquisa—, o psicanalista lacaniano Darian Leader deixa claro, neste livro precioso e perturbador, que sexo nunca é apenas sexo.
O que se perpetua (ou sobra) da primeira infância, durante a qual, para as crianças, é inacreditável (aterrorizante, nojento e violento) imaginar os pais transando, até a "maturidade" sexual do adulto? Ter a fantasia de ser dominado é ser livre sexualmente, é estar subjugado ao patriarcado ou são reminiscências das fantasias eróticas infantis com cuidadores (que, é claro, mandavam em seus rebentos e, a depender da década ou da cultura vigente, ainda lhes davam uns........