Aqui dentro não tem ho ho ho. Não tem luz de natal.
Aqui tem suvaco suado, jaqueta cheirando a sebo, cigarro, bafo de café apressado de bar.
Aqui não tem presentes caros, eletrodomésticos em 843789 prestações, vinhos envelhecidos em barricas de carvalho francês.
Só rostos, muitos, também maturados -- mas no ir e vir diário. De onde e pra onde, não sei.
Aqui a música que balança os corpos é a das engrenagens contra os trilhos do trem.
Olho pra fora: vejo o mar.
Nessa época de dezembro, com um frio mediterrâneo ameno-mas-ósseopenetrante agasalhando os corpos, a linha de trem que conecta Barcelona e a costa norte da Espanha está abarrotada:
de turistas,
trabalhadores,
sombras desgarradas fumando escondidas no banheiro do vagão,
adolescentes esparramados pelas escadarias das portas automáticas,
embrulhos e sacolas coloridas aqui e ali.
Do coração da fauna nativa, aflora o desfile característico da época -- os personagens acidentalmente natalinos do vagão de trem.
Mais
Começa com o violinista.
Na minha simplista leitura de 2 segundos, fantasio que ele é do leste europeu.
A tez acinzentada, os cabelos igualmente grisalhos. Um topete abundante, jovial, contrastando com o rosto cansado.
Sem........