É preciso ter cuidado com as palavras, usá-las com a maior precisão possível. Outro dia, no bairro carioca da Gávea, presenciei uma cena comovente. Um menino magro e maltrapilho de cinco ou seis anos interpelou uma senhora bem-vestida que saía do supermercado cheia de sacolas e disse: "Me paga um lanche, tia? Dois dias que eu não como".
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Não ganhou dinheiro para comer, mas algo até mais valioso, uma lição que o acompanhará pelo resto da vida –medida de tempo talvez curta, paciência. "Me paga, não! Não se começa frase com pronome oblíquo átono", respondeu a mulher, antes de seguir seu caminho reto e tônico.
Outro exemplo de uso desleixado da linguagem que a mulher poderia apontar: chamar de genocídio o que ocorre em Gaza. Parece que isso contraria, além de muitas sensibilidades e a orientação da Casa Branca, também a definição jurídica da palavra. Mas há alternativas.
Pode-se rotular o massacre metódico de civis palestinos promovido por Israel de "banho de sangue", por exemplo. É difícil fazer ressalvas a uma expressão tão precisa para nomear o extermínio de mulheres, bebês, crianças, adolescentes e velhos........