Podem escrever: no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que começa neste domingo, mais uma vez a nata da adolescência brasileira terá nota máxima em redações que consagrarão como ideal de texto bem cuidado um cruzamento de Ruy Barbosa com Rolando Lero.
Na minha condição de militante no ramo do esclarecimento público sobre questões de gramática e estilo há mais de 20 anos, nascido quando já fazia décadas que Graciliano Ramos e Rubem Braga eram faróis de precisão, simplicidade e papo reto, tenho vontade de chorar as lágrimas de esguicho do Nelson Rodrigues.
Por Odorico Paraguaçu, que retrocesso! De onde saiu isso? Não cabe pôr nos vestibulandos a culpa por textos coalhados de construções conectivas cômico-bacharelescas como "outrossim, cumpre salientar", "destarte, é indeclinável inferir" e "em primeira análise, observar-se-á".
Inteligentes, eles se espelham nas redações nota mil divulgadas todo ano pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e reproduzidas em incontáveis páginas da internet.
Pensam que a norma culta é assim. Não é. Se o ideal das gramáticas normativas........