Cortar é bom, escrever é melhor

"Escrever é cortar palavras." Volta e meia encontro o conselho, que virou um tremendo clichê, atribuído na internet a Carlos Drummond de Andrade —uma lenda antiga. Não, o maior poeta brasileiro não disse a frase. Se disse, veio a se arrepender de ecoar dessa forma uma banalidade, pois em conversa com Armando Nogueira negou ser seu autor.

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A inegável condição de clichê não significa que o conselho seja errado, de modo algum. Parcial e superestimado, sem dúvida. Em primeiro lugar porque deixa fora do quadro o fato —óbvio, mas nada trivial— de que antes de cortar palavras é preciso... escrevê-las.

Além disso, há aqueles casos textuais mais graves, infelizmente comuns na escrivaninha dos melhores escribas, em que qualquer tentativa de salvação por enxugamento vocabular equivaleria a tratar uma fratura exposta com mertiolate e band-aid.

Me lembro de ter visto certa vez uma entrevista de Milton Hatoum em que ele botava no seu devido lugar, com classe, a frase feita do corte de palavras como essência da boa escrita.

Famoso pela lentidão com que elabora seus livros de........

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