A memória é uma arma contra o negacionismo

A esta altura do campeonato, se algum habitante do interior de São Paulo consegue tirar da cabeça o cheiro onipresente de matéria vegetal queimada e a cor perpetuamente baça do céu, a única coisa a fazer é parabenizar a pessoa em questão pela sua capacidade sobre-humana de tapar o Sol com a peneira. Como não tenho esse superpoder, faz algumas semanas que me sinto enlutado. E o medo é que chuva nenhuma, por mais torrencial que seja, consiga dissolver de todo a mortalha que nos cobre.

O cenário de "Mad Max" do interior é só um pedaço de um problema muito maior, lógico. Da capital paulista à Amazônia, de Minas ao pantanal, mais ou menos 60% do país (para não falar de nossos vizinhos sul-americanos) está debaixo da atual pluma de fumaça. E talvez o mais angustiante —excetuando-se, é claro, a dificuldade de respirar— seja a impressão de que a ficha não está caindo. De que as pessoas não estão se dando conta de quão fora da curva é o ponto em que viemos parar.

Pode ser que a culpa caiba, ao menos em parte, a um casamento desastroso entre falta de memória coletiva e desconexão com a terra. Com efeito, o Brasil do século 21 é o filhote de........

© UOL