Anitta no terreiro

No deserto moral do digitalismo, impera a lei dos números. Cem vale menos que mil, que vale menos que um milhão, independente da qualidade do fato. Uma mentira óbvia compartilhada por milhões parece verdade. Um político pode ter popularidade numérica positiva, embora com qualificações morais negativas. Isso vai de mídia e rede social ao cotidiano vivido.

Recente é o episódio da cantora, compositora e empresária Anitta, com refluxo de milhares de seguidores devido a um clipe em terreiro afro. Dissipando temores de doença grave, ela homenageou ritualmente, vestida de palha, a divindade da doença e da cura. A mesma, aliás, que inspirou a coreógrafa Deborah Colker no espetáculo "Cura". Forte a intolerância, mais forte foi a confirmação por Anitta de sua crença. Os números deram foco à notícia: tinha 65 milhões, perdeu 200 mil. Na ótica do terreiro, entretanto, livrou-se de um encosto, ganhou.

Ao olhar ligeiro, a modernidade das redes seria incompatível com a tradição afro. Achille........

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