Quem somos nós? Essa é uma pergunta capciosa. Nós somos muitas coisas, sem duvida.
Somos um Brasil que pode ser careta, covarde e conservador.
Colunistas do UOL
Um Brasil que existiu pulsante desde o golpe em Dilma Rousseff.
Um Brasil que começou a ser construído com a invasão portuguesa, com a formação de uma oligarquia que enriqueceu com saques, explorações, escravizações, extermínios e violências.
Uma oligarquia que se perpetua no poder. Muito masculina, muito branca, muito cis-hétero-normativa, muito opressora.
Mas nós somos também a arte e a cultura das frestas.
Somos um drible bem executado, um tambor bem tocado, uma reza bem rezada.
Somos corpos encantados, espaços terreirizados.
Somos um samba bem sambado, uma capoeira bem jogada.
Somos Clarice, Pixinguinha, Carolina Maria de Jesus, Palmares, Jobim, Dandara, Marielle, Chico, Caetano, Gil, Gal, Bethânia.
Somos Chico Science, Chico Cesar, frevo e forró.
Somos Cartola, Lélia, Mangueira, Portela, Estácio.
Somos praias e serrados. Sertões e chapadas.
Somos dona Canô, Olodum, Pelourinho.
Somos Amazônia, aldeias, etnias, línguas.
Somos Maracanã, Mineirão e Castelão.
Somos Mané e somos Pelé.
Somos pessoas que tentam se livrar se preconceitos, que pedem perdão, que querem respirar, existir e festejar.
Somos a cultura das periferias e das favelas.
Somos acolhimento, alegria e paixão.
Vimos um pouco do que somos subindo a rampa do Planalto com Lula.
É fundamental que possamos nos ver em situações de poder. A invisibilidade é a forma que o dominador encontrou para nos silenciar. Quando nos vemos no espelho, e nos entendemos potentes, alargamos o campo do possível.
Pela primeira vez, pudemos subir a rampa com o presidente eleito.
É bastante coisa em uma só imagem.
Existe um país enorme a ser descoberto. Um país que há 500 anos existe e resiste.
Vivemos um ritual de passagem de poder e um ritual de passagem de vida.
No primeiro, deixamos a opressão e recebemos a inclusão.
No segundo, nos separamos do corpo de um deus encarnado.
Um homem que, como todos nós, falhou, errou, tropeçou e acertou.
Deixamos ir o homem para dar lugar ao sagrado que se manifesta na arte dos campos, dos dribles, das gingas, dos gols, das arrancadas, dos milagres.
Um país que começa o ano mergulhado em rituais cheios de significados.
Que sejam rituais que nos transformem e nos coloquem em um caminho de verdade, de afeto, de respeito e de amor.