México, 1970.
A bola sai dos pés de Clodoaldo, passa por quase todos os jogadores e, antes da meia-lua do gol italiano, chega até Pelé.
Colunistas do UOL
Com a postura de um rei, ele recebe, para, troca a bola de pé, parece pensar por alguns segundos, vira levemente o rosto para a direita e, inundado da mais genial displicência, toca a bola para um ponto vazio do gramado.
Não tem ninguém ali, e ela corre soberana pelo espaço desocupado.
Manter os olhos em Pelé depois que a bola sai de seu pé é observar todo o mistério de vida.
Aparentemente alheio ao destino da bola, ele segue seu passo elegante, lento, maroto em direção à área rival.
A bola e ele já se separaram, ela agora corre para o destino dado por ela pelos pés de Pelé.
No espaço vazio aparece Carlos Alberto Torres, voando como um pássaro, para se encontrar com a bola num chute seco, maluco, potente.
Era o quarto gol, o gol do título.
É para esse passe tão banal e humano que volto quando penso em Pelé.
Muitos outros jogadores e jogadoras já deram passes para gol. Passes mais difíceis, mais inusitados, mais criativos. Mas nenhum foi como esse.
O andar maroto, o olhar para o lado, a virada de pé para chapar a bola no ponto exato para que Carlos Alberto pudesse se encontrar com ela sem encurtar ou alargar as passadas, a continuidade da elegância depois de dar o passe, movido pela aparente certeza de que nada mais precisaria ser feito porque o rumo da bola era certo e rasteiro.
Talvez seja isso que me encante.
A grandeza de Pelé está estampada na reação mundial diante de sua morte.
Um rei, um Deus, uma lenda.
Mas, para mim, fica nesse passe tão demasiadamente humano a poesia concreta de sua arte.
Nesse toque de lado, a genialidade com que ele escrevia as mais básicas linhas.
Pode haver outros gênios como ele, claro que sim. Mas nenhum jamais terá o seu tamanho.
Pelé foi o primeiro a mostrar ao mundo que futebol é arte, é poesia, é música, é filosofia, é metafísica, é, em noventa minutos, o total sentido da vida.
Assist Pelé ? 10 (1970) #Pele pic.twitter.com/gVwoQc6DoA
-- MotherSoccer (@MotherSoccerNL)
December 30, 2022
Tudo dito, refletido e subtraído, fico com um passe trivial
México, 1970.
A bola sai dos pés de Clodoaldo, passa por quase todos os jogadores e, antes da meia-lua do gol italiano, chega até Pelé.
Colunistas do UOL
Com a postura de um rei, ele recebe, para, troca a bola de pé, parece pensar por alguns segundos, vira levemente o rosto para a direita e, inundado da mais genial displicência, toca a bola para um ponto vazio do gramado.
Não tem ninguém ali, e ela corre soberana pelo espaço desocupado.
Manter os olhos em Pelé depois que a bola sai de seu pé........
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