Há oito meses o treinador do Real Madrid, Carlos Ancelotti, minimizou os eventos racistas pelos quais seu atleta Vini Jr. passava em campo nos jogos da Liga espanhola.

Na ocasião, perguntado sobre os gritos racistas nas arquibancadas, o treinador argumentou que não via racismo dessa forma na Espanha.

Colunistas do UOL

Corta para esse domingo, 21 de maio de 2023.

Vini Jr. sofre racismo pela milionésima vez. Milhares no estádio o ofendem em coro. Vini se revolta, se enfurece e, ao final, é ele que acaba expulso depois de levar um mata-leão ainda em campo.

Com os racistas nada acontece. Na súmula do jogo, o árbitro não relata o racismo.

Todos em pacto com o inominável. Todos implicados no horror.

Grotesco. Vergonhoso.

Parece uma vitória dos racistas, mas não é.

Vini Jr. é o heroi que vai deixando legado sobre os destroços de si mesmo.

Quem em seu lugar suportaria tanta violência? Quem seguiria driblando e dançando? Pois é o que ele faz.

Só Vini sabe a dor que sente quando passa pelo que tem passado. Só ele sabe o tamanho das cicatrizes. Só ele sabe o volume do pranto.

Ninguém deveria passar por isso. Jamais. Em tempo algum.

Não cabe a Vini ser heroi - ainda que esteja sendo.

Cabe a nós aqui do lado de fora lutar.

Ver a transformação de Ancelotti é ver o que uma educação antirracista pode fazer.

Se há oito meses ele não via problema, hoje - revoltado, enojado - deu aula antirracista na entrevista pós-jogo.

Perguntando por uma repórter sobre a partida, respondeu a pergunta com outra: é do jogo que você quer falar? Você viu o que aconteceu hoje aqui?

A repórter, atordoada, respondeu que gostaria também de falar dos eventos, mas que não fez essa pergunta logo de cara para não começar a entrevista já de forma agressiva.

Aqui a gente para e analisa a inversão da narrativa.

Agressivo é o racismo. Agressivo é não abordá-lo logo de cara na coletiva. Agressivo é falar de futebol depois de termos visto o que vimos em campo.

Ancelotti sabe disso e corrigiu a rota da entrevista. Ele disse que queria falar apenas do racismo em La Liga.

Certo. Correto. Perfeito.

A Espanha perde muito ao dar palco para racistas. Perdem os times. Perde o turismo. Perde capital simbólico.

Alguma coisa terá que ser feita, e é urgente que se faça.

Até aqui, a negligência dos administradores coloca a badalada Liga de mãos dadas com os racistas e com o racismo.

Outros, como Ancelotti, vão acordar e se juntar à luta - uma luta que é de todos.

Que Vini Jr. tenha força para se proteger emocionalmente, que esteja amparado e que siga sua jornada de conquistas, dribles, gols e alegria.

Após diversas declarações contemporizando racismo na La Liga, Carlo Ancelotti, enfim, engrossa o discurso e pede medidas efetivas após Vini Jr ser vítima de novas violências fora de campo. pic.twitter.com/RnMAyCaqiF

-- Jornal dos Sports (@JornalDosSports) May 21, 2023

QOSHE - Transformação de Ancelotti revela vigor contido em educação antirracista - Milly Lacombe
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Transformação de Ancelotti revela vigor contido em educação antirracista

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22.05.2023

Há oito meses o treinador do Real Madrid, Carlos Ancelotti, minimizou os eventos racistas pelos quais seu atleta Vini Jr. passava em campo nos jogos da Liga espanhola.

Na ocasião, perguntado sobre os gritos racistas nas arquibancadas, o treinador argumentou que não via racismo dessa forma na Espanha.

Colunistas do UOL

Corta para esse domingo, 21 de maio de 2023.

Vini Jr. sofre racismo pela milionésima vez. Milhares no estádio o ofendem em coro. Vini se revolta, se enfurece e, ao final, é ele que acaba expulso depois de levar um mata-leão ainda em campo.

Com os racistas nada acontece. Na súmula do jogo, o árbitro não relata o racismo.

Todos em pacto com o........

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