Estamos diante de uma das tarefas mais importantes de nossas vidas: decidir o papel, o tamanho e a influência que as redes sociais terão sobre nossos modos de existir.

Ao contrário do que se noticia, eu diria que o debate não é apenas a respeito da mediação que faremos sobre discursos de ódio, incentivo à violência, apoio a delinquências e a delinquentes que levam por exemplo, a chacinas em escolas.

Colunistas do UOL

O debate é mais largo e mais profundo.

O que precisamos decidir, antes que seja tarde, diz respeito a autonomia dessas redes, que hoje lidam com orçamentos maiores do que os de alguns países.

Nesse mundo capitalista, riqueza gera poder, e poder gera políticos que fazem as leis.

O livro "A Máquina do Caos", do repórter Max Fisher (New York Times) nos dá algumas informações perturbadoras a respeito de como agem as grande empresas que monopolizam a comunicação na internet: Youtube, Twitter, Facebook.

Não é dizer apenas que elas lucrem nos colocando em rota de colisão uns com os outros; é bem pior do que isso. Elas alteram nossos comportamentos para que nos tornemos pessoas mais agressivas e violentas.

Já seria suficientemente preocupaste se essas empresas se aproveitassem da dimensão de violência que existe em cada um de nós para lucrar. Soltar nossas feras e ganhar com isso.

Eu diria que analisar assim é analisar apenas o começo da história. Sim, as redes atuam dessa forma, mas não somente.

O que as redes fazem é alterar nosso comportamento.

Elas criam disposições de agressividade em cada um de nós e nos levam a agir de forma violenta contra aqueles que pensam diferente.

O livro de Fisher mostra pesquisas feitas com pessoas absolutamente pacíficas em suas vidas que, incentivadas a usar contra a própria vontade palavras agressivas em postagens, começaram a ver essas postagens serem automaticamente promovidas pela rede social e, com isso, ganharam muitos likes.

Os likes funcionam como validação, aumentam nossos campos de prazer e nos levam a agir repetidamente de modo violento porque entendemos que é desse modo que seremos mais validados. E vamos em busca de mais.

A pesquisa mostrou que essas pessoas passaram a ser violentas até fora das redes sociais.

Que mundo é esse que está sendo construindo? Onde isso vai dar? Vamos nos matar uns aos outros enquanto meia dúzia de mega-empresários empilham riqueza e poder?

Estamos diante de um abismo sem precedentes. Dar o próximo passo protegendo essas empresas é despencar no vazio.

Cortar agora o seu modo de operar, tirar delas poder, regular tudo o que estiver ao alcance da regulação e obrigar que essas corporações exponham seus métodos é urgente.

A alternativa é se entregar a um irreversível processo de robotização.

Nesse caso não haverá sequer o que temer sobre o duelo homem x máquina: se nós mesmos já estamos nos dispondo de forma voluntária a sermos as máquinas, o futuro está dado.

QOSHE - Não enxergamos ainda o verdadeiro e perturbador debate sobre redes sociais - Milly Lacombe
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Não enxergamos ainda o verdadeiro e perturbador debate sobre redes sociais

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06.05.2023

Estamos diante de uma das tarefas mais importantes de nossas vidas: decidir o papel, o tamanho e a influência que as redes sociais terão sobre nossos modos de existir.

Ao contrário do que se noticia, eu diria que o debate não é apenas a respeito da mediação que faremos sobre discursos de ódio, incentivo à violência, apoio a delinquências e a delinquentes que levam por exemplo, a chacinas em escolas.

Colunistas do UOL

O debate é mais largo e mais profundo.

O que precisamos decidir, antes que seja tarde, diz respeito a autonomia dessas redes, que hoje lidam com orçamentos maiores do que os de alguns países.

Nesse mundo capitalista, riqueza gera poder, e poder gera........

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