Uma imagem de Leila Pereira sentada ao lado de alguns dirigentes durante uma reunião da Libra - a tentativa de se fazer uma nova liga de futebol no Brasil - revela esteticamente o que ela deve enfrentar no dia a dia como executiva de futebol.

Vemos Leila encolhida enquanto seus colegas abrem as pernas de modo a dizer: esse espaço é nosso.

Colunistas do UOL

O rapaz de calça clara imediatamente ao lado dela o faz de forma contundente.

Criação do 'Eixo RJ-SP' cria rusgas na Libra.

Os 8 grandes clubes de RJ e SP (Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco, Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo) se uniram para fazer cobranças sobre a Medida Provisória das apostas esportivas e não incluíram os clubes dos outros? pic.twitter.com/3AqxY979dL

-- Planeta do Futebol (@futebol_info) April 13, 2023

Mulheres em situação de poder não estão livres de passar por esse tipo de intimidação.

Quis o destino que fosse uma mulher a presidente do Palmeiras em uma das fases mais vencedoras do clube.

E que fosse uma mulher aquela disposta a falar mais duro sobre entraves para a criação da Libra.

Em coletiva, no dia das apresentações de Artur e Rios, Leila foi bastante direta ao expor suas opiniões.

Falou das reuniões da Libra e de como não se decide nada nesses encontros.

Criticou a necessidade de unanimidade nas decisões explicando que, com isso, nada jamais será aprovado, e criticou a vaidade que sente em outros dirigentes nessas ocasiões.

Falou da soberba de "determinados clubes" que só pensam em si mesmos ignorando que ninguém joga sozinho; sugeriu que a Libra será forte se todos forem fortes.

"Um precisa do outro", disse.

Errada não está, como fala o meme.

"Vim fazer meu clube vencedor e tentar melhorar o futebol", Leila disse antes de criticar a soberba que sente em outros clubes.

"O Palmeiras não vai se curvar", falou de forma tranquila mas dura. "Um clube [apenas] não vai comandar a liga", disse referindo-se, é bastante provável, ao Flamengo e a seu presidente.

Disse também que sabe que o que ela pensa tem muitos outros que também pensam, mas precisou uma mulher vir dizer isso em público.

Como mulher, me faz bem ver Leila se fortalecer como dirigente e peitar poderosos e ações narcísicas.

Enquanto ela for figura única no meio de tantos homens, seguirá tendo que cortar um dobrado para se fazer ouvir. Mas ela alarga sua caminhada, se oferece como liderança e parece muito disposta a deixar um legado.

Que pelo menos uma próxima foto da Libra os colegas ao lado dela tenham a educação de se sentar de pernas fechadas.

Como curiosidade, a cartilha feminista dá a esse gesto de masculinidade invasiva um nome: manspreading, ou o ato de sentar com as pernas muito abertas ocupando um espaço que escapa do que seria razoável.

Eu acho que o manspreading é mais que um hábito feio. Pra mim, é uma forma grotesca de fazer com que a gente se esprema ou se deixe encostar por um idiota. Ou seja, assédio sexual mesmo.https://t.co/NF11BpCly8

-- Marina Gadelha (@GadelhaMarina) March 24, 2023