Estou em Mainz, na Alemanha. Terra de Johannes Gutenberg (c. 1400-1468), inventor da prensa móvel, sem a qual, talvez, não teríamos os jornais de domingo e as nossas tão amadas bibliotecas domésticas.
Cheguei por aqui faz uma semana para concluir uma pesquisa junto à universidade local e transformar a minha tese de doutorado em livro. Conheci o campus, recebi as chaves do meu escritório, fiz a minha carteirinha da biblioteca e me matriculei em um curso de alemão para tentar colocar a gramática em dia.
Também revi alguns amigos da época do doutorado e juntos desbravamos a cidade que, para o meu contentamento, fica às margens do Reno, o único rio que —com exceção daquele ainda mais bonito que corre pela minha cidade, o Capibaribe— habita o meu imaginário com as suas histórias de seres fantásticos, rabinos, filósofos, poetas e compositores.
Assim como quem viveu o Recife não consegue desvincular o Capibaribe da poesia de João Cabral de Melo Neto nem dos engenhos de açúcar ou dos fantasmas de Gilberto Freyre, bem como da música de Chico Science e Reginaldo Rossi, por aqui quem convive com o Reno quase sempre tende a evocar os versos de Heinrich Heine, as melodias de Robert Schumann e a história da presença judaica na Europa Central.
Foi às margens do Reno que teria surgido a língua ídiche e onde, há pouco mais de mil anos, o judaísmo europeu começou a tomar corpo. Em Mainz, bem próximo ao campus da universidade, encontramos um dos........