Sobre os engolidos pelas telas, condenados à inexistência
A cena foi simples e ainda assim distópica, inesquecível. Estava parado no sinal vermelho, por acaso sem buscar distração, olhar perdido no vazio, ou mais precisamente nos carros opostos a mim. O sinal verde se abriu e ninguém se moveu. O primeiro motorista, dominado por seu celular, não percebeu que era hora de partir. Em outros tempos teria ouvido um buzinaço hostil, mas agora imperou o silêncio. Atrás dele havia outro motorista perdido no celular, e atrás desse mais outro, e atrás desse mais outro, até um insondável limite. Uma fila de sujeitos de todo indiferentes ao momento de seguir, sem pressa para chegar a lugar nenhum, talvez sem saber aonde ir.
A imagem me pareceu mais reveladora do que outras típicas da nossa época, como os casais em restaurantes que mal se falam e mal se veem, ou os passageiros de ônibus, aviões, trens, sentados lado a lado e totalmente alheios, cada um consumido por sua tela resplandecente. O caso que eu testemunhava era mais chocante pela paralisia: aquelas pessoas estavam detidas no tempo, suspensas numa hora qualquer de seus dias, num ponto qualquer do mundo, absortas numa futilidade qualquer, ausentes de si mesmas. Já não precisavam de nada, estavam saciadas: o testemunho de um mundo fantasmático era........





















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