Durante anos mantive na parede do meu quarto de criança um quadro que trazia a imagem de um chimpanzé, e embaixo as palavras: "Justo quando aprendi todas as respostas sobre a vida, trocaram as perguntas". Não sei quem terá escolhido aquele quadro para o meu quarto, se eu mesmo, minha mãe, meu pai. Não sei que grande lição filosófica se esperava que um menino depreendesse daquela frase. Sei que ela me parecia cômica e ligeiramente veraz, enunciando o que eu só entenderia mais tarde, a inconstância de toda certeza, a impossibilidade de um saber permanente, intocado pelo tempo que tudo devora.

Peço licença ao leitor para recuperar uma lembrança banal, desses dramáticos azares que se dão na vida de um menino de sorte. Adolescente, eu costumava velejar, levava a sério o esporte, treinava todo fim de semana, participava de campeonatos da classe laser (encontrava Robert Scheidt com frequência, embora só por alguns minutos até que ele me deixasse para trás). Certo ano um amigo meu, que treinava sempre ao meu lado, foi participar de um campeonato brasileiro e se saiu bastante bem, ficando entre os dez primeiros colocados. Eu me enchi de uma esperança insensata: no ano seguinte seria minha vez de me destacar.

No ano seguinte, porém, o........

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