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O fim de quase toda memória: então é assim que as histórias acabam

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sunday

Foi há um tempo incerto, um senhor se aproximou num museu, queria me dizer algumas palavras. Pensei que viesse me repreender pela alegria ruidosa das minhas filhas ao redor, mas seu semblante era amigável. Não queria mais que me contar uma história. Sabia que eu me chamava Fuks, assim grafado com k, era um Fuks com k também ele. Queria contar que muitas décadas atrás, ainda jovem e imberbe, travara uma conversa das mais agradáveis com um outro Fuks, um homem que por qualquer indefinível razão ele nunca esqueceu. Era um peleteiro de Buenos Aires, comentou, seria por acaso seu parente? O acaso de fato brincava conosco através dos tempos. Sim, aquele devia ser o meu avô, alfaiate de peles e chapéus do bairro de Almagro, um homem que passei longe de conhecer, morto há mais de meio século.

Saí dali um tanto inquieto ou intrigado, ou tomado por algum outro adjetivo que me faltava. Meu impulso imediato teria sido contar a história ao meu pai, não estivesse ele também morto. Em minha mãe o caso abriu um meio-sorriso, embora menos alegre do que incrédulo: um encontro banal tão memorável lhe parecia uma improbabilidade, e era certo que tal homem podia ser ou não ser o pai do meu pai. Ela mesma não teria recurso nenhum para confirmar: quando chegou........

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