Escritoras gaúchas descrevem o indescritível
Hoje cedo o espaço da minha coluna para seis colegas escritoras que viveram a tragédia climática no Rio Grande do Sul. Perguntei a cada uma delas: o que você nunca mais vai esquecer?
Aqui, no destino das águas, o desastre chega anunciado, feito filme de terror. Sacos de areia nas portas, barricadas nas ruas. A ilusão muda a paisagem antes de a água tomar o Cais, a Biblioteca, os hospitais. Cobras surgem aos montes nas áreas esvaziadas. Ratos e baratas que o Instagram não mostra. Uma cadeia que se alimenta do caos. Um homem rema sozinho para alimentar os animais. Ele não está em desespero, como eu. Ele tem a calma de quem se habituou a perder toda uma safra e recomeçar, do zero.
Rio Grande
Mais de uma década atrás, eu vivia meio nômade e tinha um livro por vez, copiando os trechos de que mais gostava num pequeno caderno pautado de capa preta. Hoje de manhã, consegui abrir uma gaveta inchada pela água e dali recolhi o caderninho amolecido. Pude abri-lo apenas uma vez antes que se desmanchasse. Na minha caligrafia antiga, uma frase de Sidarta, do Hermann Hesse: "tudo que existe é necessário e pede apenas a minha aceitação". Admito que foi poesia, mas não foi nenhum consolo.
Porto Alegre
A água atingia nossos joelhos e vinha com força........
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