Uma mulher de 26 anos chega à emergência do hospital relatando dores, falta de ar e o crescimento de uma massa abdominal há algumas semanas, sintomas precedidos por fortes náuseas e vômitos. Os testes sanguíneos mostraram alterações em vários parâmetros, mas como um deles confirmou a existência de uma gravidez, o que antes era preocupante passou a ser trivial. "Não há nenhuma doença, ela só está grávida", concluíram os médicos.
É com um relato semelhante a esse que os pesquisadores Anna Smajdor e Joona Räsänen iniciaram uma discussão recente em um periódico de ética médica, destacando que a conhecida expressão "gravidez não é doença" esconde muitos riscos que afetam as gestantes e que, portanto, deveria ser revista.
Por se tratar de um tema sensível e com diversos pontos de vista, o artigo gerou muitas críticas, apontando, por exemplo, que a gestação, por ter efeitos adversos que algumas vezes podem ser graves, não é conceituada automaticamente como uma doença.
Apesar das polêmicas, o texto propiciou um debate importante ao colocar em perspectiva os riscos trazidos por uma gravidez. Embora o avanço da ciência nas últimas décadas tenha reduzido a mortalidade materna, esse índice ainda é muito alto em diversos países, variando de duas mortes maternas a cada 100 mil nascidos vivos na Noruega, para mais de 1.200 na República do Sudão do Sul.
Se o progresso científico é capaz de reduzir os riscos à saúde causados pela gravidez e pelo parto, a ciência também........