Seis jovens passam 30 dias numa ilha paradisíaca onde não mora ninguém. O que mais parece chamada de reality show na verdade faz parte de uma pesquisa científica. No Parque Estadual da Ilha Anchieta (PEIA), uma Unidade de Conservação (UC) em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, voluntários empreendem campanhas de monitoramento da fauna marinha e mergulham todos os dias em busca de uma espécie ameaçada de extinção: a raia-chita (Aetobatus narinari). A pesquisa está associada ao projeto Mergulhando na Conservação, coordenado pelo Instituto de Oceanografia da USP.
Nós participamos de uma dessas campanhas, atraídos por uma foto dessa raia que tem o dorso preto cheio de pintinhas brancas. Linda. No entanto, entender a importância dessa espécie para além da aparência envolveu mergulhos, não só no mar, mas nos elos entre a ecologia e a história humana.
Para explicar o escopo do programa, é preciso retroceder no tempo. Muito antes da invasão portuguesa, a ilha já era ocupada pelos tupinambás, provavelmente para plantio. Entre a ilha e o continente existia um fluxo de espécies da fauna e da flora, formando a Mata Atlântica que conhecemos hoje. Por não ser um lugar tão afastado da terra firme (cerca de 500 metros), é bastante provável que esse fluxo fosse intenso. Assim, a composição de espécies da ilha não era tão diferente de outros trechos da costa. Era uma época em que a intervenção humana no ambiente estava associada à sua manutenção e não à sua degradação.
Séculos depois, em 1918, um presídio se instalou na ilha e a paisagem sofreu modificações, uma vez que os detentos eram obrigados a........