Desde os tempos do ensino fundamental somos apresentados ao ciclo da água, aprendendo que as plantas absorvem a água pelas raízes e, depois de utilizá-la em seu metabolismo ao longo do corpo, servem-se das folhas para devolvê-la à atmosfera. Esse caminho, porém, está longe de ser o único.
A água pode seguir rumos inesperados, não se limitando ao percurso solo-planta-atmosfera. Ela pode, por exemplo, entrar no corpo das plantas pelas folhas e a partir daí seguir a rota contrária, retornando ao solo, um movimento vital para o sucesso de várias espécies vegetais. Essa "rota alternativa" da absorção de água pelas folhas, apesar de pouco conhecida, é mais comum do que se pensa, e pode ser observada em mais de 250 espécies de plantas distribuídas em diversos biomas.
Em minha tese de doutorado em biologia vegetal, cursado na Universidade Federal de Minas Gerais, fiz uma descoberta ao observar essa estratégia em plantas de um ecossistema conhecido por sua grande diversidade: os campos rupestres, encontrados em topos de serras e chapadas mais altas, com rochas onde predominam ervas, gramíneas e arbustos (aquela vegetação típica da savana). Além de comprovar a entrada de água a partir da neblina nas folhas das espécies desse ambiente, minha pesquisa revelou variações na intensidade dessa estratégia.
Mas, afinal, por que é tão importante investigar a absorção de água pelas folhas das plantas nos campos rupestres? Antes de tudo, precisamos entender o valor desse ecossistema, muitas vezes subestimado até mesmo por alguns cientistas. Os campos rupestres são formados por uma mistura diversificada de vegetação gramíneo-arbustiva encontrada em rochas que contêm ferro, ou de........