A dúbia relação entre a ciência e a indústria de alimentos

O universo da nutrição é desses em que a produção científica borbulha. Só para se ter uma ideia, eis três achados recentes: o consumo de uma a três porções de kimchi (conserva de acelgas coreana) está associado à redução da obesidade em homens; extrato de açafrão reduz o estresse; e essa história de dizer que é preciso reduzir o consumo de açúcar para se ter uma boa alimentação é, na verdade, inapropriada.

Essas são conclusões de estudos publicados em revistas científicas, e que até poderíamos levar a sério não fosse um pequeno detalhe: o conflito de interesses. É que a pesquisa sobre kimchi foi bancada pelo Instituto Mundial do Kimchi; o principal autor do estudo sobre o extrato de açafrão trabalhou anteriormente para uma empresa que fabrica extrato de açafrão; a pesquisa sobre o consumo de açúcar foi financiada por uma cooperativa agrícola que reúne mais de 8 mil produtores de… açúcar.

Outros tantos estudos análogos podem ser encontrados no blog Food Politics, mantido por Marion Nestle (nada a ver com a gigante dos alimentos), professora emérita da Faculdade de Nutrição, Estudos Alimentares e Saúde Pública da Universidade de Nova York. A cientista publica a série Industry-funded study of the week (Estudo financiado pela indústria da semana), em que traz exemplos por vezes comentados com seu humor ácido.

Casos como o do kimchi chamam atenção por serem estudos aparentemente desnecessários: a conserva é milenar, feita a partir de ingredientes naturais. Ninguém estava acusando o kimchi de fazer algum mal à saúde, era desnecessário ressaltar seus benefícios. Ainda assim, como Nestle afirma em seus posts, "é........

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