A cientista que quer entender uma paisagem que não faz sentido

Foi pela televisão que Thamyres Sabrina Gonçalves se encantou pelo estudo da Terra. "Fui fazer geografia por causa da [repórter] Glória Maria. Achava que, para viajar para todo lado como ela, tinha que ter formação nessa área".

Hoje Gonçalves cruza geografia e ecologia para estudar ilhas florestais isoladas em meio a campos rupestres no Vale do Jequitinhonha mineiro. Nesse ambiente de Cerrado, existem vários tipos de paisagem e os campos nativos de altitude predominam. "Mas há algumas ilhas de florestas isoladas em meio a esses campos. Você olha a paisagem e se pergunta: como essa floresta veio parar aqui?", ela conta.

Uma das hipóteses para isso é que, milhões de anos atrás, fragmentos de Mata Atlântica haviam se expandido por esses campos e depois retraíram, deixando para trás alguns "enclaves", ou capões de mata. Essa é a teoria dos Refúgios Florestais proposta pelo alemão Jürgen Haffer, que foi aplicada na fitogeografia brasileira pelo [geógrafo brasileiro] Aziz Ab'Saber. "Um dos meus objetivos de pesquisa é apresentar contrapontos a essa teoria, porque a expansão da Mata Atlântica não chegou até aqui", diz Gonçalves.

Durante o doutorado na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, a geógrafa se debruçou sobre transições na vegetação do Espinhaço desde os primórdios do Quaternário — período geológico mais recente da era Cenozóica — que começou cerca de 2,6 milhões de anos atrás. "É muito difícil pegar essa transição entre campo e floresta porque é raro encontrar dados que marcam eventos transicionais com exatidão. A subjetividade faz parte da pesquisa paleoecológica e arqueobotânica, daí a necessidade de ser inter, trans e multidisciplinar — o que torna o trabalho ainda mais........

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