IA vai substituir terapeutas? Como a psicanálise interage com a tecnologia
Poucos sabem que Lacan acompanhou de perto as conferências Macy's, que aconteceram em Nova York entre 1946 e 1953, com filósofos, lógicos, matemáticos, antropólogos, psicanalistas e psicólogos. Dali saíram várias das teses especulativas relacionada à tecnologia que acabaram virando realidade com o passar dos anos.
A abertura, feita por Von Neumann, o pai da moderna teoria dos jogos, foi sobre a arte em computadores e neurofisiologia. Wiener trouxe uma visão dos mecanismos automáticos de autorregulação. McCulloch mostrou como as redes neurais simuladas podem emular o cálculo da lógica proposicional. Rosenblueth descreveu o comportamento intencional e os mecanismos teleológicos de sistemas orgânicos e inorgânicos.
Bateson levantou o debate sobre os computadores poderem "aprender a aprender" e como algoritmos seriam usados em economia, ciência política e psicanálise. Northrop e Lazarsfeld logo intuíram os riscos éticos e o potencial de manipulação que a tecnologia representa para a psicologia social.
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Havia os interessados nos mecanismos das arquiteturas neurais (por exemplo, Pitts e McCulloch) e os interessados em como esses mecanismos agrerariam percepção, memória e pensamento (por exemplo, Eric Ericson, Köhler e Kurt Lewin).
Um resumo justo de uma discussão tão importante e extensa, que vai completar quase 80 anos, passa por dois problemas quando falamos da relação da inteligência artificial e a psicanálise:
Em Lacan, estes dois pontos são tensionados na teoria da divisão do sujeito, que tem auto-referência contraditória, e na teoria do significante, que vai além de um código fechado de significados.
No primeiro caso, a pesquisa em IA avançou na criação de modelos que simulam a mente e tentam reproduzir aspectos do inconsciente. No segundo, concentra-se em temas como realidade aumentada, imprevisibilidade e infinitude.
Parece, então, que os conceitos de Real, Simbólico e Imaginário mudam dependendo de como os analisamos — seja a partir da ideia de um sujeito paradoxal ou da lógica do significante. E essa é a graça da IA na pesquisa psicanalítica.
No livro "Entrevista com a IA" (ed. Zagodoni), o psicanalista Henry Krutzen descreve um experimento real feito por ele usando o Chat-GPT-4 para explorar a consciência, a auto-transformação e o impacto na prática das psicoterapias.
É ideal para quem quer entender, de forma didática e instigante, o que aconteceu na conferência Macy's e o que dizia Lacan no Seminário II sobre "O Eu na Teoria de Freud e na Técnica da Psicanálise".
Krutzen dialoga com os usos, conceitos e problemas (ou soluções) que vem com a IA —agora disponível para a massa e sendo usada por pessoas que reinventam propósitos nem sempre previstos em laboratório. A tecnologia quando "humanizada"........
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