Telefone sem fio: a crise da narração |
Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'
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Telefone sem fio, é bom que se explique para os mais jovens, era uma brincadeira de criança em que, sentados lado a lado, o primeiro sussurrava uma frase no ouvido do amiguinho ao lado, que por sua vez repetia para o próximo, e assim ia passando por uma cadeia até chegar ao último. Havia um suspense para ver o que seria da frase original, que fatalmente viria distorcida. "A natureza é bela", por exemplo, chegava em algo como "a professora é velha".
Hoje a brincadeira continua, só que virou um jogo de adultos. A deformação da verdade deixou de ser um acidente e se tornou método: fatos importam menos do que a maneira como são contados. O jogo não é mais sobre o que aconteceu, mas sobre qual versão consegue se impor —e atiçar o desejo (ou a fúria).
No mercado de atenção, o que vale é o desempenho da história, não a fidelidade dos fatos. Diante disso, a mentira emotiva sempre terá vantagem sobre a verdade desinteressante.
A realidade é moldada por narrativas (termo esgarçado, mas........