A ditadura do moralismo

Sejamos honestos, ninguém é totalmente honesto consigo mesmo. É humanamente insuportável lidarmos com a verdade crua sobre quem somos e enfrentar nossas inconsistências sem nenhum anestésico emocional. A natureza humana é habilidosa em inventar virtudes morais e especialista em encontrar justificativas para nossas derrapadas morais.

Hoje esse mecanismo ganhou outros contornos. Não existe nenhuma conversa em que a moralidade não domine. Vivemos uma crise de hipocrisia; quem não compartilha das mesmas crenças, é automaticamente considerado imoral —às vezes até é.

O mundo está cheio de almas que se julgam puras e bem-intencionadas e de pessoas narcísicas e inseguras que precisam exibir e gritar suas virtudes morais, nem que seja para se redimir de seus pecados inconfessos.

Eles se definem por não ser o que o outro é, sem se preocupar com o que são: é nesse "não ser" que se baseia sua identidade. Parecer é mais importante do que ser, ser bem-visto é mais importante do que ver bem.

Dizer que estamos polarizados é chover no molhado. A bipartição foi longe, extrapolou a política, invadiu o terreno ético e se tornou uma questão passional.

Em diferentes doses, todos nós estamos condicionados a ter uma reação emocional quando somos contestados em nossas........

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