Blockchain pode ter novo impulso e mudar como agimos
Ninguém gosta da ideia de que faz de bom grado e pensa aquilo que pessoas com as quais não mantêm qualquer relação conceberam, mas quando até Jonathan Haidt, o cientista que promove a cruzada moral do momento contra as redes, elege o YouTube como campo de batalha, a gente nota que é o caso de dizer que encenamos roteiros alheios.
A contradição possui um histórico conhecido. O sujeito genuinamente acredita que Cuba é um exemplo para o mundo, mas sonha mesmo em morar em Nova York e lecionar em Columbia.
Os aficionados por batalhas ideológicas são rápidos em apontar: hipocrisia! Não é tão simples. Ocorre que, independentemente de suas crenças sobre modelos político-econômicos e estruturas de subjetivação, Columbia continuará propiciando uma experiência intelectual mais rica que a que se tem na USP, que por sua vez é superior à das escolas particulares, até para quem considera que o melhor para o Estado é a sua privatização.
Com a tecnologia é a mesma coisa: ela torna visões de mundo e rotinas comportamentais irresistíveis, mesmo para a maioria dos que acreditam rechaçá-la. Em alguns casos, isso se traduz em pura elevação da experiência, em outros, no contrário, ao passo que a maioria dos casos fica no meio do caminho, ainda que puxando mais para o lado positivo do que para o negativo. Isso pode ser deduzido do fato de que todos os indicadores de qualidade de vida sobem com o tempo, junto com algumas doenças psiquiátricas e neurológicas.
A gente sabe que usar o Waze até para ir à padaria eleva as chances de demência. Mas, quantos topam sair de carro sem ele? Mais fácil é bradar contra a algoritmização do pensamento que promove e seguir em frente, até porque o Waze melhor a nossa vida em termos mais amplos.
No artigo anterior, apresentei uma definição do que é tecnologia para as pessoas em geral e alinhavei suas propriedades fundamentais. Tecnologia é o somatório das coisas orientadas à prática, que nos são contemporâneas e que a gente não tem a menor ideia de como funcionam.
No entanto, a tecnologia possui outra realidade, oculta para aqueles que estão distantes de suas dinâmicas criativas e produtivas. Tecnologias são prescrições comportamentais materializadas, frequentemente em grande escala.
As rotinas comportamentais e entendimentos que induz não são externalidades, mas partes de uma unidade indivisível que podemos chamar de tecnocomportamental, a qual define o que a tecnologia efetivamente representa no mundo atual. Essa é a mensagem central até aqui.
A canalização tecnocomportamental ocorre em diferentes níveis. No nível mais concreto, a estrutura de nossas mãos começa a mudar devido à digitação constante. No mais abstrato, comportamentos espontâneos se alinham de tal forma que até os maiores críticos de uma tecnologia acabam por adotá-la. É nesse nível que se manifestam os maiores impactos societários.
Não existem conceitos estabelecidos para descrever essa canalização. A........
© UOL
visit website