A questão religiosa ou a vida das abelhas aos domingos |
A primeira tarefa a que nos devemos dedicar é saber se, de facto, existe algo que pelo menos se assemelhe a uma questão religiosa. Após um século XX que se pode considerar ateu, o início do novo século apresentou-se através da mais terrível manifestação de fervor religioso. O brutal ataque ao World Trade Center demonstrou à saciedade que a religião mantinha em outras paragens a exuberância que outrora vigorava no continente europeu. Apesar da tese de Carl Schmitt, que descobria num motivo religioso uma simples manifestação de um espírito político, a pujança e fervor islamitas pareciam contradizer em absoluto o apagamento das crenças tradicionais e da sua importância na cena internacional.
Tal vigor deveria envergonhar os pensadores e doutrinadores da esquerda política. Na senda da análise secular de Maquiavel, na radicalização da Revolução francesa, e perseguindo os ideais e as utopias socialistas, essa zona do espectro político castrava, ridicularizando e eliminando, o sobrenatural, e engavetava-o no obscurantismo. A esquerda moderna, jacobina ou não, navegou naturalmente nessas águas radicais durante décadas a fio. Na mais benévola reação perante o fenómeno religioso, os protagonistas descartavam-no para a relativa indiferença........