Gosto de falar, de vez em quando com os meus leitores mais antigos. Nem sei se de fato existem e se ainda estão vivos e alertas, e talvez fique falando sozinho. Mas imagino que esta pequena crônica chegará a alguns deles. Então, eis o que queria perguntar a vocês: será que se lembram de um sobrinho criativo e algo folclórico que figurou em alguns artigos e também, de passagem, no meu livro mais recente, O Brasil não cabe no quintal de ninguém? Pois ele vai ser o personagem central hoje. Antes, porém, é melhor fazer uma rápida recapitulação para situar o personagem nas suas “circunstâncias sociais e históricas”, como diria um sociólogo ou historiador das antigas.
Trata-se de um rapaz inteligente e possuidor de um grande senso de humor. Quando ingressou, há mais de dez anos, como estagiário num banco de investimento em São Paulo, sofreu, entretanto, uma fulminante conversão ao ideário da turma da bufunfa. Bem que sei que este grupo não tem propriamente ideias e, assim, “ideário” é um termo impróprio. Mas como todo agrupamento socioeconômico, a turma da bufunfa cultiva seus conceitos ou, melhor dizendo, preconceitos. Pois o sobrinho passou a defender, com fervor, todos esses preconceitos. Encantou-se, por exemplo, com “a taxa de juro de equilíbrio”, aquela variável não observável, leitor, inferida por modelos, que supostamente determina o nível adequado dos juros, isto é, aquele que assegura a convergência da inflação para determinadas metas. Essa taxa de equilíbrio serve, na verdade, para o despropósito de justificar os juros pornográficos que o Banco Central praticava naquela época e quase sempre pratica. Com o entusiasmo dos novatos, o sobrinho argumentava insistentemente que os “modelos” mostravam inequivocamente que a taxa Selic de equilíbrio seria de 10% ao ano em termos reais!
Passou. Atualmente, este sobrinho é um empresário de sucesso na área educacional, revelando-se uma das poucas pessoas da família que sabem ganhar dinheiro. A nossa família, dominada por políticos (honestos) e artistas, é uma verdadeira negação em matéria financeira. Paulinho é uma exceção. Não havia dito que ele é meu xará? Esqueci. Ele é quase meu homônimo, o que me causava alguns constrangimentos, devo dizer. O motivo é que ele costumava mandar cartas aos jornais e publicar alguns artigos,........