A política externa de Trump 2.0: diplomacia desmontada, poder corroído – Por Maria Luiza Falcão

A informação não partiu da Casa Branca nem do Departamento de Estado. Veio da imprensa. Foi revelada pelo The New York Times, na segunda-feira (22/12), em reportagem assinada por Edward Wong, e confirmada por fontes ouvidas pelo jornalista: o governo de Donald Trump 2.0 ordenou que cerca de 30 embaixadores dos Estados Unidos — diplomatas de carreira, confirmados pelo Senado e ainda em pleno mandato — retornassem a Washington em poucas semanas. Muitos foram avisados abruptamente, por telefone, sem explicação formal e sem qualquer anúncio público. O sindicato do Serviço Exterior classificou a medida como inédita desde a criação da diplomacia profissional americana.

Antecedentes de um desmonte anunciado

Os antecedentes desse desfecho estão numa inflexão deliberada iniciada ainda nos primeiros meses do segundo mandato. A política externa passou a ser conduzida como extensão da disputa doméstica, e não como política pública de longo prazo. Ao atacar o que chama de “deep state”, Donald Trump não mirou um complô oculto, mas o próprio Estado profissional americano: diplomatas de carreira, técnicos civis e servidores especializados cuja função é assegurar legalidade, previsibilidade e continuidade institucional. Esse núcleo burocrático, historicamente responsável por amortecer impulsos personalistas e preservar canais de negociação, foi progressivamente deslegitimado, esvaziado e tratado como obstáculo político. Decisões passaram a privilegiar lealdade pessoal em detrimento da expertise, e a mediação técnica cedeu lugar à confrontação ideológica. A convocação em massa de embaixadores, portanto, não inaugura a ruptura; ela a explicita como ato final de um processo que substituiu a diplomacia profissional por uma política externa personalista, avessa à institucionalidade e estruturalmente incapaz de sustentar influência duradoura num mundo multipolar.

O retorno do unilateralismo........

© Revista Fórum