“É meio a meio. Duas de cimento e duas de areia. Água até cobrir e aí o cabra mexe com paciência, sempre pro mesmo lado, que nem bolo.” Esta é a receita de Tomé para a massa homogênea que sepulta buraco, aplaina piso, alisa quina, apruma teto. De minha parte, digo até que amansa gente.
O pedreiro Tomé é baiano de Irecê. Tem 4 filhas e sete netos. 60 anos, com corpo de 40, rosto de 70, olhar de 80. Já explico por quê.
Vive com a filha no bairro do Grajaú, vizinho de Interlagos. Se caminhar mais um tico, pisa em Diadema.
Para tocar a campainha às 9 horas aqui em casa, no centro, o Tomé levantou às 5. Pegou ônibus, trem e dois metrôs.
Como se diz nas profundezas da cidade: se você tomou seu café na padaria logo cedo, ou chegou na hora ao trabalho é porque alguém madrugou na periferia paulistana.
Alguém cozinhou. Alguém limpou. Alguém dirigiu, enquanto a burguesia roncava sob o edredon.
Tomé entrou às 9 e às 9:01 começou o trabalho.
Martelo e talhadeira a preparar o chão para receber o novo piso. Também raspou, passou a massa, pintou.
Quanta diferença daquela empreitada do primeiro........