Éramos 5

Sextou na Augusta. Isso quer dizer que o rebuliço de gente, de carros, de bares está mais atiçado que o normal.

A multidão brota do metrô, do ônibus, da vizinha Paulista e desce a rua para festejar o fim. O fim do expediente, o fim de tarde alaranjado, o fim de semana.

Entre bêbados e loucos, sóbrios e sábios, um boêmio me acena com tímida discrição. O convite é para trocar a balbúrdia pela magia de uma boa história. Coisa de cinema, garante.

O danado tem sorriso doce, olhar de poeta e as duas mãos ocupadas: na canhota, copo com cigarro entre os dedos e na direita, o microfone.

O convite do boêmio é fantasia de cronista, já o cinema é de verdade. O filme chama-se Lupicínio Rodrigues, Confissões de um Sofredor.

Eu e minha namorada entramos na sala miúda do cinema de rua.

As luzes se apagam. Nós dois, mais um espectador solitário e dois amigos, que entram atrasados e agachados tentando não atrapalhar nossa visão, formávamos a plateia.

5 privilegiados a conhecer a vida do menino pobre, irmão de 20, que saiu do bairro de Ilhota, em Porto Alegre, para entrar mais cedo no........

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