Dois pés atrás

Como professora, me pego pensando em como falar de políticas públicas complexas com pessoas que estão picotando chinelos novos, em vez de doá-los. Entendo que organizar as próprias angústias não é simples — e que é muito mais fácil parar de comprar uma marca do que explicar a origem de 450 mil reais em dinheiro vivo dentro de casa e outros 90 mil no porta-luvas de um carro.

Por outro lado, confesso que também fiquei intrigada com as filas nas lojas das Havaianas, shoppings lotados, gente comprando chinelos como quem faz um ato político.

A pergunta que me faço é inevitável: se fosse Zezé Di Camargo na propaganda, no lugar de Fernanda Torres, haveria o mesmo movimento? Talvez eu mesma deixasse de comprar. Admito. Mas, agora, a pergunta é outra; sendo Fernanda Torres (nossa diva faraônica e cristo-redentônica) quem não usava esses........

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