No primeiro dia de 2024 foram conhecidos os resultados de uma sondagem, cujos trabalhos de campo decorreram na semana anterior ao Natal. Em torno desses resultados seguem-se algumas reflexões.

Quando caiu o terceiro governo de A. Costa parecia haver um relativo consenso no país sobre a fraca qualidade desse executivo. Apesar de ter obtido uma maioria absoluta nas eleições do fim de janeiro de 2022, o PS não conseguiu governar com estabilidade e muito menos com eficácia.

A António Costa sucedeu Pedro Nuno Santos (PNS) na liderança do PS. Ora o novo líder dos socialistas fez questão em não se demarcar da herança que recebia; pelo contrário, repetiu vezes sem conta – e continua a repetir – as alegadas virtudes desse governo, enaltecendo a atuação de A. Costa. PNS tem proclamado a sua vontade de prolongar a herança recebida.

Na altura, pareceu-me uma aposta arriscada. É certo que PNS fez parte do terceiro e mais recente governo de A. Costa e que ele próprio também tinha provocado alguns casos que não foram propriamente motivos de glória. Mas porquê lembrar as alegadas qualidades de um executivo do qual os portugueses se queixam?

A última sondagem de 2023 (Aximage, para o DN, JN e TSF) sugere que PNS tinha razão ao assumir claramente a herança de um governo de má imagem. Essa sondagem coloca o PS de PNS como o provável vencedor da eleição de 10 de março. Os socialistas crescem acima de um ponto percentual face a Novembro, para se fixarem nos 34,1% das intenções de voto, garantindo mais de nove pontos percentuais de vantagem sobre os sociais-democratas, que recuam praticamente dois pontos, para 24,8%.

Sobre a possibilidade de PNS ou Luís Montenegro (LM) vir a ser primeiro-ministro, o líder socialista mantém vantagem, ainda que o social-democrata encurte distâncias. E quando se pergunta quem daria um melhor chefe de governo, PNS leva três pontos de vantagem sobre LM. Ou seja, não há indícios de que a herança de A. Costa tenha prejudicado PNS, pelo contrário.

Dir-se-ia que, após 50 anos de democracia, na opinião pública o PS se tornou o único partido natural de governo, talvez por ter governado muito mais anos do que os seus rivais. Até parece que, se A. Costa não se tivesse demitido de primeiro-ministro, ganharia agora as eleições com relativa facilidade.

Há um claro receio da mudança entre os portugueses, ainda que protestem contra a situação atual. Um receio que, como é óbvio, o PS tem estimulado de muitas maneiras. O poder político dos socialistas tem multiplicado a dependência de um crescente número de pessoas em relação ao partido, em matéria de emprego, de rendimentos e não só. O que atrasa ou até poderá inviabilizar uma saudável alternância no poder.

Tudo isto complica a vida a LM, que deverá dar prioridade a soluções e propostas alternativas do PSD, explicadas com clareza aos eleitores.

Mas ainda faltam mais de dois meses para os portugueses irem votar. E a experiência mostra que, com alguma frequência, as sondagens induzem em erro se forem lidas como previsões – afinal, elas procuram fazer um retrato do passado recente, não prever o futuro.

A última sondagem de 2023

A última sondagem de 2023

No primeiro dia de 2024 foram conhecidos os resultados de uma sondagem, cujos trabalhos de campo decorreram na semana anterior ao Natal. Em torno desses resultados seguem-se algumas reflexões.

Quando caiu o terceiro governo de A. Costa parecia haver um relativo consenso no país sobre a fraca qualidade desse executivo. Apesar de ter obtido uma maioria absoluta nas eleições do fim de janeiro de 2022, o PS não conseguiu governar com estabilidade e muito menos com eficácia.

A António Costa sucedeu Pedro Nuno Santos (PNS) na liderança do PS. Ora o novo líder dos socialistas fez questão em não se demarcar da herança que recebia; pelo contrário, repetiu vezes sem conta – e continua a repetir – as alegadas virtudes desse governo, enaltecendo a atuação de A. Costa. PNS tem........

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