Cachorro sem salsicha

Em criança comia sempre cachorro quente sem salsicha. Chegava timidamente ao balcão do bar de praia e pedia: “É um cachorro sem salsicha, se faz favor.” Seria isso apenas um pão? Perguntam, e bem. A resposta é sim, mas não só. Cheguei à conclusão precoce, aos seis anos, de que o que eu gostava era dessa combinação absurdamente calórica dos acompanhamentos de um cachorro. Cachorro sem salsicha. Poderia ser um verso da famosa canção da Adriana Calcanhoto, mas era o meu almoço de Verão. Eu abdicava, feliz, do essencial. Gostava das redondezas do cachorro: do subúrbio onde habitava a batata palha, dos arrabaldes onde escorria a mostarda, do desvio da cebola caramelizada, das adjacências do pão torrado.

Estupefacção era o que mais recebia do outro lado. Conseguir realizar este pedido foi uma das grandes batalhas da minha infância. Pelo meu historial de pedidos insólitos, onde se contavam o pão sem madeira (nome que dava à côdea), o pastel de nata sem........

© PÚBLICO