O medieval Brasil dos entres
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Na casa de minha avó portuguesa havia, logo à entrada, um aparador. Sobre ele descansava um pequeno Buda de gesso, posto de costas para a porta com uma nota colada na parte inferior. Do lado esquerdo, uma guia de santo pendurada na parede. Mais para o lado direito, uma Bíblica aberta no Salmo 91 e, em cada um dos lados, uma imagem religiosa: Nossa Senhora de Fátima e a Rainha Santa Isabel. Eu ficava deslumbrado com todos aqueles signos de religiosidade misturados sem muita ordem, que podiam ser lidos como a garantia felicidade para a vida cotidiana.
Minha avó viera para o Brasil com suas duas filhas já bem depois do meu avô. Há muitas histórias sussurradas de família sobre o porquê dessa demora, mas nunca se pôde falar delas em voz alta. Disse-me, uma vez, minha avó, em segredo, que era porque meu avô tinha arrumado outra e que foi a muito custo que os irmãos dele lhe tiraram essa ideia da cabeça, mas que a culpa nem era dele, porque se sabia de fonte segura que ele havia sido enfeitiçado.
O historiador francês Jacques LeGoff defende que aquilo a que........
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