“Cunhas” e Voltaire
Se existe figura na História Universal que parece o nosso Presidente da República é Voltaire. Marcelo, tal como Voltaire, o filósofo das "Luzes", tornou-se, quase por unanimidade, alguém visto como um verdadeiro "paladino da justiça", a quem se deve recorrer nos casos de intolerância e de má vontade das instituições ao não aceder aos pedidos e lamúrias do povo.
Assim, ao longo dos seus primeiro e segundo mandatos, não hesitou em assumir esse papel, passando da condição de homem catedrático à de homem de ação. Tal como Voltaire, ele conserva sempre um temperamento fleumático, é um cético moderado e sempre amável no trato.
Os seus argumentos e os seus juízos eram então acatados, ou tolerados, até pelos seus próprios inimigos, como o clero e a nobreza; no caso do português, os ministros do Governo, os dirigentes da oposição e os sindicalistas acham mais prudente fazer-lhe algumas concessões do que enfrentar a fúria devastadora da sua ajuizada pena ou, pior, do seu comentarismo político, arte em que ninguém lhe consegue levar a palma.
Como em tudo na vida, chegou, entretanto, o momento em que os ímpetos da personalidade são – aos olhos do povo – motivo de censura, e isso acontece porque esse mesmo povo não sabe distinguir o "escrupuloso cumprimento das regras e procedimentos" da "cunha" e do tráfico de influências.
A "cunha" é o ato de alguém usar a sua posição ou ligações para favorecer outrem. As pessoas com........
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