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Festa de piscina

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15.07.2024

Duas da tarde. Sol a pique. Cervejas frescas. Festa de piscina!

Os telemóveis estão hasteados como bandeiras sobre os rostos. Tiram-se selfies. O verão está hot. A atmosfera é light. Uma brisa smooth. As palavras emigraram, as frases têm todas dupla nacionalidade:

“Isso é top!”

What? Jura?”

Ya! É do best! “

“Mas completamente random…”

Está toda a gente despida. É uma festa de piscina. Eu estou de biquíni, mas movo-me como se tivesse um casaco de pele de urso numa festa do gelo em São Petersburgo. Ou um engenho de explosivos à cintura. Como naqueles sonhos em que acordamos de repente no meio do auditório da faculdade, do jantar de família ou da reunião de trabalho e estamos completamente destapados. Aqui é uma mistura de tudo isso: a festa de piscina inclui colegas de trabalho, faculdade e família dos anfitriões. Acordámos todos no mesmo pesadelo: o de circular entre desconhecidos protegidos apenas pela estreitíssima camada de licra e elastano. A sinceridade irremediável da nudez. Foi por isso que se inventaram as roupas. Os homens das cavernas não tinham frio. Tinham sensatez.

Tento andar sempre em frente porque tenho muito mais confiança na dianteira do que na retaguarda. Nunca sei bem como é que a parte de trás do meu corpo se comporta quando não estou a reparar.

As fisionomias à minha volta são vastas, pluriformes. E não só as dos rostos. As dos ombros, dos seios, das coxas, das barrigas, das axilas, as configurações dos pêlos, dos sinais, dos dedos, das unhas dos pés. E ainda as texturas, as tonalidades, as linhas limítrofes… A tensa fronteira entre a região lombar e o glúteo superior: essa zona de alto risco sujeita ao potencial perigo de um mau elástico nos calções de banho. O cunhado do anfitrião passeia displicentemente um espetáculo de fronteiras abertas, um espaço Schengen no fundo da coluna. Não o conheço e já sei mais sobre ele do que gostaria. Festa de piscina…

Engelho as sobrancelhas, os malditos óculos de sol não protegem o suficiente a visão. Engelho o pensamento a tentar espremer a lógica das regras sociais, que determinam que estejamos cobertos na maioria dos lugares, mas que nos possamos despir noutros… O pudor e as suas normas territoriais. Aqui o dress code é less is more, o........

© PÚBLICO


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