O OVO, a ministra e a violência
Recentemente foi pedida a demissão da Ministra da Saúde pelo Observatório da Violência Obstétrica. Para quem ignore, o que é admissível porque o número de observatórios existentes em Portugal é incomensurável, o OVO é uma “…associação pioneira sem fins lucrativos, formada por Utentes e Profissionais do Sistema de Saúde, principalmente Mulheres e Mães…”. Tem nos seus objectivos “… melhorar as condições de atendimento às mães e filhos durante a gravidez, parto e puerpério…”.
Deve ser dito que o recenseamento dos “Observatórios” existentes em Portugal é muito árduo e talvez nem deva ser tentado. A dificuldade na sua quantificação é enorme e o acompanhamento sistemático da actividade de cada um deles pode ser impossível – a não ser que para tal seja criado um novo observatório. Serão mais de uma centena, dedicados a diversíssimas áreas e sobre muitos não se encontra um rasto mais visível do que o nome. Alguns terão sido avistados um dia como um cometa de período longo e ignora-se se alguma vez voltarão a ser vistos. Outros mantêm-se activos, maioritariamente desenvolvendo trabalho na área das ciências sociais, onde abundam doutorandos e temas de doutoramento.
Retoma-se a apresentação do OVO, para melhor compreensão do seu pensamento e trabalho.
Um dos seus princípios é a “igualdade de género” e o seu site na internet é encimado por uma imagem alargada de uns lábios manchados de um vermelho que pelo tom não parece sangue, também não parece eosina nem vermelho do Congo e é, provavelmente, um batom. O OVO não dá qualquer esclarecimento sobre quais as situações em que se verifica a igualdade de género, o que é perturbador dado o seu enfoque na gravidez e parto, nem qual o significado de uns lábios rudemente manchados de vermelho. No entanto, porque terá considerado relevante, e numa percepção clara da ignorância das pessoas sobre essa questão, elucida em nota o que são “mulheres”: “Mulheres*=pessoas que vivam ou tenham vivido na pela (sic) as mesmas opressões, sejam mulheres (trans ou cisgénero), homens trans ou pessoas não binárias”.
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Dos seus orgãos sociais são conhecidos os 21 membros fundadores. Um deles é do sexo masculino – uma conclusão, espero que não abusiva, a partir da fotografia e do nome, ambos replicados na equipa de outro observatório – sendo os restantes vinte, pelos mesmos critérios, do sexo feminino. O conhecimento de quem fundou, quem foi a alma matar de qualquer instituição, ajuda muito a cimentar a confiança que nós temos nessa instituição. Quanta da tranquilidade com que olhamos para o futuro de Portugal vem de sabermos que foi fundado por D. Afonso Henriques, que era intrépido? Quanta da confiança que nos merece o SNS português não provém de ter sido criado pelo Dr. António Arnaut, advogado ilustre e poeta de Coimbra? Quanta da esperança numa vitória dos homens sobre o holocausto climático não mana do Eng. António Guterres, uma personalidade de ferro e um vencedor?
Não é possível mostrar as fotografias legendadas com os nomes correspondentes. Mas está ao alcance de um ou dois parágrafos sumarizá-los numa perspectiva onomástica, porque os nomes próprios têm uma evolução geracional que os torna quase tão úteis para conhecer as pessoas como os anéis da madeira para a dendocronologia. Não existem naquela lista Deolindas, Hortências ou Salustianas. Mas deve ser destacada a presença de duas Patrícias, uma Sandra, uma Soraia, uma Andreia, uma Bárbara… revelando um compromisso sério com as gerações mais novas e mais preparadas de sempre.
São associados honorários do OVO 6 pessoas. Uma delas é 1) Obstetra ou, segundo se define “Médica, cientista, professora, feminista”. São também de destacar 2) um Fisioterapeuta Pélvico, 3) uma senhora que é “Idealizadora do projeto BIRTH IN MOTION…” que “desenvolveu o conceito de prática somática perinatal” e é “Estudiosa visionária e orientadora sensível que inspira inovação na assistência à gestação, parto e puerpério…”, 4) uma outra senhora “psicóloga, professora adjunta dos cursos de medicina e psicologia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia”, participante de uma associação chamada GentleBirth Brasil que apresenta no seu site uma outra senhora psicóloga, uma advogada e uma senhora relações públicas, “convictas de que a combinação da neurociência, obstetrícia e tecnologia é um dos mais revolucionários caminhos para o parto positivo”, 5) um Médico de Medicina Geral e Familiar, e 6) uma senhora EESMO (Enfermeiro Especialista de Saúde Materna e Obstétrica) que desenvolve a sua actividade no “Renascer” um Centro Materno-Infantil Integrativo.
A associação o OVO fica assim apresentada com recurso às informações presentes no seu site e sites correlacionados. Esta apresentação não lhe faz justiça, é apenas uma chamada de atenção para quem a desconhecia e deverá ser complementada com grande proveito na sua página.
A existência e acção do Observatório da Violência Obstétrica estão presentes no espaço público desde Janeiro 2022.
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