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(1) A Universidade ainda faz sentido?

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08.05.2025

A Universidade foi uma criação extraordinária da Idade Média (1088-Bolonha, 1096-Oxford, 1170-Paris), motivada pela sede de conhecimento e com vocação teologal: Conhecimento, Verdade, Espírito, Deus. Ao longo de 900 anos, reinventou-se e atravessou, com êxito surpreendente, diferentes contextos sociais, económicos e políticos.

Hoje existem cerca de 25.000 universidades por todo o mundo, mas vários autores afirmam que a Universidade está em crise, ou em ruínas, ou que é um “zombie”, no sentido em que perdeu a sua missão original, mas continua a existir… Erguer uma universidade foi considerado o mais nobre dos empreendimentos humanos, mas hoje há dúvidas sobre a sua missão e utilidade para o século XXI, o que parece contraditório no contexto da chamada “sociedade do conhecimento”.

Afinal, o que pode a Universidade oferecer aos estudantes e à sociedade atual? Qual deve ser a sua missão essencial hoje? Quais são os grandes desafios e ameaças que enfrenta? E que novos modelos de Universidade estão a ser propostos para responder a esses desafios e para cumprir a sua missão no futuro?

Cada universidade tem as suas especificidades, mas há desafios e ameaças comuns, nomeadamente, a perda do monopólio do conhecimento e do ensino, e a concorrência de alternativas à universidade tradicional. Diz-se que os métodos de ensino estão obsoletos; que os encargos económicos com alguns cursos não são rentabilizados; que aprender ao longo da vida faz mais sentido do que um curso de 5 anos; soma-se a acusação de que a Universidade está refém de ideologias ou interesses económicos.

A pandemia Covid-19 agudizou um mal-estar latente nos estudantes, e a desconcertante passividade estudantil, que dura desde maio de 1968, dá lugar a uma revolta silenciosa – basta pensar no fenómeno dropping out of university / college.

Em Portugal, após a desarticulação dos mestrados integrados (5 anos), vários estudantes optaram por entrar no mercado de trabalho apenas com a licenciatura (3 anos), sem prosseguir para o mestrado ( 2 anos). Será um epifenómeno ou uma tendência crescente? Depois da pandemia, os avanços na Inteligência Artificial (IA) (ChatGPT, DeepSeek, Gemini) aumentaram a comoção com que se debate o futuro da Universidade.

São imensos os críticos da Universidade, mas muitos falham o alvo, ou não têm alternativa, ou reciclam ideias antigas com nova roupagem. Também é frequente confundir duas coisas bem distintas:

Neste artigo, e nos dois seguintes, pretende-se identificar problemas e fazer perguntas, pois não faz sentido procurar respostas para perguntas que não se colocaram. Posteriormente, poder-se-á sugerir propostas para o futuro da Universidade.

No cenário atual, ressurgem questões que, não sendo novas, voltam a ganhar relevância: a Universidade deve ser um espaço de ensino ou de investigação? Tem como finalidade preparar profissionais ou cidadãos? O conhecimento é um fim em si mesmo ou deve sujeitar-se a critérios de utilidade? A Universidade deve ter financiamento, avaliação e tutela governamental ou mais autonomia e “concorrência de mercado”? Ou é possível conciliar tudo na mesma instituição?

Mas no contexto atual, para além destas recorrentes dicotomias, emergem perguntas........

© Observador