Mais cimento, mais confusão? A procura é que manda

O paradoxo aparente

Notícias recentes têm referido estudos em que o preço das casas sobe mais em zonas de maior aumento de construção. À primeira vista, soa a um contrassenso económico: se a oferta aumenta, o preço deveria baixar. Esta aparente contradição é o ponto de partida para o que deve ser uma análise mais profunda do que realmente move o mercado habitacional em Portugal. A explicação, longe de ser um mistério, reside numa força económica muito simples e poderosa: a procura. E, neste momento, a procura é uma maré que levanta todos os barcos, até os que ainda estão no estaleiro.

O mito do “excesso” de construção

É tentador olhar para um bairro cheio de gruas e concluir que o problema dos preços é causado por um surto construtivo desenfreado. No entanto, esta visão ignora o contexto mais amplo. A realidade é que Portugal emergiu de uma década de subinvestimento crónico em construção nova. Dizer que a construção aumentou 95% num ano pode ser verdade, mas é erróneo. O défice habitacional acumulado é enorme, fruto de uma tempestade perfeita entre a crise financeira de 2008, regulação apertada e inconstante, e falta de financiamento.

O que vemos hoje não é um “excesso”, mas sim o retomar de uma prática necessária face a anos de seca construtiva. As zonas com mais construção são, precisamente, as que registam maior dinamismo económico, mais emprego, melhores infraestruturas e, consequentemente, uma atração populacional mais forte. A construção não está a causar o aumento de preços; está a responder ao mercado. O problema é que a resposta, por mais........

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