menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

O Jornalixo e as perguntas xuxi

10 0
15.10.2024

O primeiro-ministro foi autêntico quando falou sobre o que pensa dos jornalistas e do jornalismo. Não há grandes dúvidas que Luís Montenegro pensa exatamente aquilo que disse: que há chefes ou superiores que sopram perguntas-encomenda pelo auricular, que uns já trazem a pergunta escrita no telemóvel e que os jornalistas se prendem com a espuma dos dias e a pequena política. O falsete de indignação comprovou-lhe a genuinidade quando sugeriu que muitos jornalistas são autómatos e pau-mandados acríticos de alguém superior.

O primeiro-ministro tem todo o direito de ter esta opinião, embora ela seja, naturalmente, injusta e mal informada. Montenegro foi um bocadinho Ventura (ao ser conspirativo), um bocadinho Emília Cerqueira (quando escreveu que a reação foi exagerada, ao bom estilo das “virgens ofendidas”), um bocadinho Rui Rio (quando pediu outro ritmo das notícias, um jornalismo mais “tranquilo”) e até um bocadinho António Costa (quando se queixou de ser inopinadamente apanhado sobre um tema de atualidade em eventos que nada têm a ver com a pergunta).

O primeiro-ministro disse que uma das coisas que o “impressiona” é ver que a maior parte dos jornalistas tem “um auricular, no qual lhe estão a soprar a pergunta” e outros que “pegam no telefone e fazem a pergunta que já estava previamente feita”. Sobre os auriculares, já muito se disse e escreveu. Como foi explicado em peças jornalísticas e avulso por jornalistas — por vezes até com alguma dispensável verve — o auricular serve na esmagadora maioria dos casos para dizer aos jornalistas para entrarem e saírem de diretos e outras indicações que vão desde um ‘tens cocó de pombo no ombro’ até a um ‘prepara-te, estou a ver aqui pelas imagens de drone que ele está a chegar’.

Mas é preciso que leitores, ouvintes e telespectadores saibam: sim, há perguntas que são sugeridas pelo auricular. E ainda bem que assim é. Se um jornalista estiver fechado numa sala três horas, se não ouviu a reação de um outro político, se não leu um documento oficial que entretanto já chegou à redação, tem de ser avisado para estar o mais informado possível. No caso da política, pode apenas ser informado do que disse outro líder partidário, alguém do seu partido, de uma promulgação presidencial, entre um sem-número de hipóteses. Se a pergunta já vier formulada, desde que seja boa, não se percebe........

© Observador


Get it on Google Play