Marcelo, o redentor não-mandatado
Marcelo Rebelo de Sousa ouviu o presidente de Angola a lembrar que o colonialismo português “oprimiu e escravizou o povo angolano durante séculos”. O Presidente português ouviu o discurso de João Lourenço nos 50 anos da Independência de Angola até ao fim e, depois disso, desvalorizou as declarações do homólogo. Marcelo não tinha outra alternativa, para cumprir a sua função diplomática, que não fosse ouvir o discurso pacientemente até ao fim. Foi, aliás, uma lição de maturidade que o chefe de Estado de um país democrático, como Portugal, dá a outro, Angola, que está longe de corresponder a uma democracia moderna.
O Presidente da República tem razão quando diz que o presidente angolano até já foi mais duro no passado do que naquela intervenção. Percebe-se, olhando para o discurso de João Lourenço na íntegra, que, por exemplo, a África do Sul (com referências ao “regime retrógrado do apartheid” ou à batalha do Cuito Cuanavale) até foi mais castigada do que Lisboa nessa intervenção. Marcelo podia, no entanto, sem beliscar as relações diplomáticas (agora que não há “irritantes”, convém não criar novas guerras) ter feito o enquadramento histórico que já fez no passado e lembrar que Portugal foi pioneiro na abolição da escravatura e que o Portugal democrático, que ele representa como chefe de Estado, foi aquele que avançou para descolonização. Marcelo não o fez não porque não podia, nem porque não devia, mas porque não quis.
Na primeira metade do seu mandato, Marcelo foi mais cauteloso nas referências ao passado colonial. Foi nessa altura (em 2017) que, durante uma visita ao Senegal, o Presidente português reconheceu “o que havia de injusto e de sacrifício nos direitos humanos”, acrescentando: “Como diríamos hoje em dia”. A tal miopia anacrónica de “olhar o passado com os olhos de hoje” que afloraria anos depois. Na mesma ocasião lembrou que Portugal, logo em 1761, deu passos para a abolição da escravatura ao proibir o tráfico para a........





















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