Burqa: a grande vitória política do Chega

A proibição das burqas e dos niqabs em espaços públicos tem uma óbvia dimensão política. Trata-se, antes de tudo, de uma vitória do Chega. Não é preciso recuar muito: há dois anos uma proposta como esta não seria aprovada no Parlamento e rapidamente o partido de Ventura seria acusado de intolerância religiosa ou racismo. Agora os dois partidos de Governo (PSD e CDS) e a Iniciativa Liberal não só votaram a favor da proposta, que querem melhorar na especialidade, como validaram os argumentos do Chega. Até o insuspeito de simpatizante das ideias de Ventura, Rui Tavares, disse não gostar dos gajos que obrigam mulheres a utilizar burqa.

A exposição de motivos da proposta mostra que o Chega quis aprovar a medida não apenas por razões securitárias de reconhecimento facial (não confundir com segurança), mas também pela defesa dos direitos das mulheres e, acima de tudo, para defender os valores do ocidente. O presidente do Chega foi claro quanto a isso na intervenção que fez: “Quem chega a Portugal, venha de onde vier, com os costumes que tiver ou a religião que tiver, tem de acima de tudo, cumprir, respeitar e fazer respeitar os costumes deste país e os valores deste país.”

Ventura tem apenas 60 deputados, mas sabia que no atual contexto — em que a maioria do país acompanha as suas preocupações sobre imigração e choques culturais — os restantes partidos à direita estavam entre a burqa e a parede. A maior vitória de Ventura é essa: mesmo minoritário, tem força para impor as suas ideias à maioria. Foi assim na imigração, na disciplina de cidadania, nas limitações à nacionalidade e agora também na proibição de ocultação do rosto. Mais do que ideias, Ventura está a conseguir impor o modelo de sociedade que quer para o País.

PSD, CDS e IL consideram que a proposta faz sentido — independentemente da dimensão de pessoas que abrange — mas não só não avançaram primeiro com a lei, como não entregaram propostas de alteração até ao momento da votação. A paternidade da proposta é por isso do Chega, a bandeira é do Chega e a vitória é do Chega. Antes do voto, Ventura colocou a pressão no ponto certo: “Hoje, neste Parlamento, a esquerda portuguesa não tem força para parar este movimento. Hoje, só o centro direita o poderá fazer. Espero que ao fim do dia vençam os valores de Portugal e não os valores do Médio Oriente.” A direita não se atreveu a votar contra.

Não há, por isso, dúvida absolutamente nenhuma sobre a legitimidade política da proposta que acabou por ser aprovada, neste primeiro momento, por quatro partidos........

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