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Os salmos de Churchill e o silêncio das palavras

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14.11.2025

«Ponho o ouvido à escuta de encontro ao mundo: /

ouço-me para dentro. /

[…] Há palavras que requerem uma pausa e silêncio.»

Poemas Completos, Herberto Helder (Porto Editora)

As palavras nascem do pensamento, mas habitam a cidade. São imperfeitas, portanto. Impuras e inacabadas. Têm passado, essência, matizes. E nem sempre lhes vemos a alma. O lustre matricial depressa se dilui no enredo dos dias. Imersos na voragem, somos meros passageiros em busca de origens e significados. Detemo-nos e escutamo-las, na esperança de encontrar cada um dos átomos em ebulição que as transformam e lhes dão vida. Nem sempre conseguimos. Nem sempre porfiamos. E nunca estamos prontos.

Se algumas perdoam e redimem, outras separam, retaliam. Magnânimas ou inclementes, facilmente se alojam em nós, sementes em terra fecunda, disfarçadas de alento, dúvida, desassossego. Consentimos na entrada, sem pinga de desconforto ou embaraço. Na verdade, procuramos nelas todas as respostas. Sabemos, lá no fundo, que nos ligam ao universo das coisas intocáveis, invisíveis: ao que não compreendemos nem controlamos, a tudo o que nos escapa com a leveza do orvalho e a insubmissão da areia fina. Não basta, por isso, usá-las sem freio nem amanho. É mister conhecê-las ainda. Até as mais singelas têm âmago, pulsões, magnetismo. E cada uma tem o seu lugar no curso ancestral da língua.

Desengane-se, pois, quem julga serem dispensáveis e sobejos o método e a norma, inimigos do acaso, da entropia. De nada servem fios emaranhados. Acaso as notas musicais se acantonam nos compassos como abelhas alvoroçadas em colmeia? A ordem não flui apenas da gramática, porém. Desprende-se amiúde da própria narrativa, da cadência inevitável de ideias, que sulca novas passagens em velhos caminhos. Embora nos tenha chegado pelo latim narratīvu, o termo enraíza-se no sânscrito gnärus, que expressa precisamente «ter........

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