Como interpretar os números da greve

A greve geral de 11 de dezembro abriu, uma vez mais, uma batalha feroz sobre os números de adesão. Ainda antes de existirem estimativas credíveis, já ambos os lados proclamavam ou relativizavam vitórias: adesões “históricas”, segundo os sindicatos; paralisação concentrada “na função pública”, segundo o Governo.

No entanto, nenhuma greve geral é apenas um protesto. Constitui, outrossim, uma arena simbólica onde, através dos números, Governo e sindicatos disputam ideologias, as quais vêm à tona no campo das narrativas. Importa, por isso, interrogar o que esses números realmente significam — e, sobretudo, o que cada lado pretende que eles digam.

Comecemos pelos números que temos. A Administração Pública portuguesa conta com cerca de 750 mil trabalhadores. Destes, aproximadamente 30% pertencem ao setor da Saúde, 24% ao da Educação e cerca de 1% ao dos Transportes. Ou seja, o universo dos trabalhadores nos setores onde a greve foi mais visível, representa cerca de 55% da função pública. A outra metade, e que abrange áreas tão diversas como finanças, administração interna, justiça, autarquias, forças de segurança, entre muitas outras, funcionou de forma maioritariamente regular.

Esta simples decomposição revela desde logo uma primeira narrativa falaciosa. Quando o Governo afirma que a função pública foi a principal aderente, está, na prática, a reduzir um sistema........

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