A Igreja católica e as novas espiritualidades
1. A “Nova Era” (“New Age”, NE) é um movimento cultural, filosófico e religioso bastante diversificado, abrangente e sedutor. E, ainda que não constitua propriamente um sistemas de crenças organizado, com práticas ou rituais bem definidos (não tem chefe, nem regras, nem doutrinas fixas, nem teoria ou disciplina comum) ela tem vindo a generalizar-se no mundo ocidental, impondo ao Homem contemporâneo (quer este se aperceba ou não) novos padrões de julgamento, de sentimento e percepção da realidade. Estudiosos da religião caracterizam o movimento NE como “uma mistura eclética de crenças, práticas e modos de vida”. Perante o estado de um certo “desencantamento” do mundo (os avanços da ciência e da tecnologia não foram, afinal, suficientes para o evitar) e de uma generalizada degeneração moral e espiritual da sociedade, a NE rompe com os paradigmas culturais regidos pelas religiões tradicionais, particularmente com o Cristianismo, e propõe-se criar uma nova Espiritualidade, religada ao Cosmos e à Natureza (paradigma ecológico), alicerçada numa nova consciência e numa profunda e nova forma de estar na vida; em suma, de uma nova era. Todas as ideologias modernas, todo o discurso do “eu” e “autodeterminação” individual, a “nova versão” de liberdade como valor absoluto, o avanço do Relativismo para a cada vez mais evidente “Ditadura do Relativismo”, têm origem, em grande parte, dizem-nos os estudiosos da matéria, nas correntes de pensamento associadas à NE. O hiper individualismo, típico da sociedade contemporânea, reinventa-se assim através desta nova espiritualidade voltada para si própria, na busca do “eu” interno, exacerbado; na procura de uma alegada “iluminação interior” e “essência de si mesmo” (seja lá o que isso for…).
Ora, um dos aspectos mais insidiosos (e daí, também, a sua eficácia) desta sedutora proposta alternativa é que ela se proclama, estrategicamente, de “ortodoxa”. Tudo é, então, apresentado como bom, necessário, confiável e sempre associado ao imparável e desejável Progresso (progresso, como fim em si mesmo; o novo Bezerro de Ouro da sociedade contemporânea). Finalmente, tudo é percecionado e assumido no imaginário colectivo como algo credível, que corresponde à opinião dominante, e à visão normal e óbvia da natureza das coisas.
2. Independentemente das múltiplas sensibilidades e práticas que caracterizam a NE (e movimentos por ela inspirados), todas elas se unificam em torno de um denominador comum: quebrar a unidade cristã da civilização ocidental anulando, para tal, a influência da Igreja Católica. A Igreja Católica é a única instituição de alcance universal que poderia resistir e opor-se aos novos paradigmas culturais; e por isso, é intenção comum a todos eles, afrontá-la, reprová-la, combatê-la. A estratégia é ardilosa e passa, sobretudo, por dissolvê-la num gigantesco........
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