A República contra Portugal
Frase do dia
“Fazer vingar a causa do povo em Portugal é operar uma obra de prodígio. O povo não está feito. É fazê-lo. Não é ressuscitá-lo. Ele nunca existiu Na realidade é dar-lhe nascimento e mostrá-lo à própria nação assombrada, como um homem novo e sem precedentes”.
João Chagas, Cartas Políticas, Carta ao Congresso de Setúbal, Lisboa, 12 de Abril de 1909
O 5 de Outubro
“Toda a noite ouço o estampido brutal do canhão, que por vezes chega ao auge, para depois cair sobre a cidade um silêncio mortal, um silêncio pior. Que se passa? Distingo o assobio das granadas, e de quando em quando um despedaçar de beiral que caiu à rua. E isto dura até de madrugada. De manhã as tropas do Rossio rendem-se e os marinheiros desembarcam na Alfândega. Às oito e meia está proclamada a república”, escreveu Raul Brandão a 5 de outubro de 1910. Gasta pela humilhação do Ultimato, fragilizada pela inércia do Rotativismo e pelos sucessivos escândalos político-financeiros, acusada de vassalagem à pérfida Albion e desacreditada pelo apoio directo de D. Carlos ao governo enérgico de João Franco, caía, polvilhada do sangue ainda fresco do Regicídio, uma das mais longas Monarquias do Velho Continente. Durara mais de sete séculos, por vezes contra todas as probabilidades. Pátria de pátrias e Nação de Nações, foi pela acção e patrocínio da Coroa que Portugal descobriu meio mundo e conseguiu escapar à força centrípeta de Castela, mesmo durante a União Pessoal. Da sua queda até aqui passaram 115 primaveras. Tentando fugir dos parti-pris da intelligentzia de serviço, é um bom dia para cada português perguntar: de que nos valeu a República que a substituiu? Que nos deu?
Comecemos pelo feriado, porque só um país amnésico e programaticamente ignorante votaria ao esquecimento esse distante 5 de outubro de 1143 em prol de uma revolução até hoje divisiva e francamente mal contada. Portugal, um dos países mais antigos do mundo e o mais antigo Estado-Nação da Europa, com fronteiras definidas desde Alcanizes, vive desde então desmemoriado e desaportuguesado. Se em 1834-36 os liberais arrasaram o antigo regime, estrangeirando o país, foi o democratismo republicano de 1910 que, por obra e graça da pequena burguesia urbana, o refundiu. Feito de grande vulto, se considerarmos que os portugueses têm um fortíssimo sentido de identidade nacional pelo menos desde a crise dinástica de 1383-1385. Em tempos de acirrado europeísmo, onde de hora a hora nos vamos........





















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