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Semana de quatro dias: razões para o fazer no SNS

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01.10.2024

Alguns críticos da semana de quatro dias tendem a associar os problemas do SNS à redução das 40 para 35 horas semanais, (re)implementada entre 2016 e 2019. Mas quantos médicos conhecem que realmente trabalhem apenas 35 horas?

Um inquérito realizado em agosto de 2023 a 1.737 médicos internos especialistas, no âmbito do estudo Avaliação do Burnout no Internato Médico Português, revela que trabalhavam em média 53 horas por semana. Este inquérito mostra ainda que 85% trabalhavam mais de 40 horas, 55% faziam turnos superiores a 12 horas, 62% trabalhavam à noite e 56% tinham dois ou menos fins de semana livres por mês. Além disso, 54% consideravam ter uma relação desequilibrada entre a vida pessoal e profissional e 35% iniciaram apoio psicológico ou psiquiátrico durante o internato. Cerca de um quarto destes médicos apresentava sintomas graves de burnout. Num outro relatório, 55% dos médicos inquiridos indicou trabalhar em excesso mais de uma vez por semana ou quase diariamente. A insatisfação com o número de horas de trabalho no SNS é clara, com 61% a afirmar-se insatisfeito ou muito insatisfeito. Esta insatisfação estende-se ao tempo disponível para a família e vida pessoal, com 74% dos médicos a expressar descontentamento. Outro estudo, de 2017, Burnout na Classe Médica em Portugal, aponta o mesmo problema. Esta pressão sobre os médicos não é sustentável e tem consequências terríveis para a sua vida pessoal, bem como para a qualidade dos cuidados de saúde prestados.

As 35 horas não resultaram numa verdadeira redução do tempo de trabalho dos médicos. Também não promoveram uma reorganização eficiente do trabalho – outro elemento central da semana de quatro dias. Pelo contrário: as 35 horas acabaram por ser apenas uma forma encoberta de aumentar os salários, uma vez que os médicos continuaram a trabalhar tanto quanto antes (ou mais), passando a receber mais pelas horas extraordinárias, ao mesmo tempo que criaram problemas operacionais na gestão de equipas.

O principal argumento contra a........

© Observador


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