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 O mundo sem cor

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15.11.2025

Há um primeiro dia para tudo. Há um novo amanhecer que se esconde subtilmente entre tudo aquilo que é novo.

Estou farto de ver como o mundo tem perdido cor. Recentemente, alguém observou que a maioria dos carros é branca, preta ou cinzenta. “O mundo está a perder a luz”, confessou-me, em tom de quem faz uma descoberta avassaladora. Concordei com a afirmação e, mais do que isso, senti que era um pensamento clinicamente observador, quase poético.

Nos anos 90, podíamos ver carros amarelos, vermelhos, azuis. Cores vivas, que inspiravam e refletiam a esperança dos tempos. Uma década que, embora imperfeita, projetava anos de crescimento económico e paz geopolítica: uma nova era, mais humana, mais progressista, onde parecia impossível recuar.

Hoje, assistimos ao triunfo de um cinismo silencioso. A desconfiança instalou-se entre nós. Atualmente, a empatia pelo semelhante é tratada como um panfleto de publicidade na caixa do correio a acumular pó de meses. Os vizinhos já não jantam em casa uns dos outros. Os amigos já não tocam à campainha das casas das avós só para saberem se o amigo está lá, enquanto os pais ainda não saíram do trabalho. Já não há tempo para a espontaneidade, para a brincadeira, para a futilidade........

© Observador