Walter Benjamin e um buraco na parede
No pensamento místico, a procura pelo vazio traz consigo a promessa de união, de um encontro com outra realidade. Não se confunde com o nada; é antes um limiar tocado pela graça, trânsito para uma realidade mais plena. Os japoneses, especialistas na arte da minúcia, têm o costume de marcar na casa a presença simbólica desse vazio através de um minúsculo buraco aberto na parede. Esse buraco – o tokonoma – pode ser feito com a unha. Basta raspar um pouco a cal da parede para o olhar do homem adquirir um duplo poder: aproximar o distante, afastar o próximo e arder.
Eram cinco as belíssimas irmãs, de treze, catorze, quinze, dezasseis e dezassete anos, que em poucos meses decidiram pôr termo à vida. A sua história é-nos narrada pelos miúdos do bairro que as viram crescer. Brincaram com elas nas ruas, nos parques; foram seus colegas de carteira e as suas primeiras paixões, e não conseguem compreender o que as terá levado a tomar uma tal decisão. A notícia da sua morte marcará para sempre a vida destes miúdos e, vinte anos depois, o misterioso e terrível fim das suas amigas continua a ocupar as suas conversas. Guardaram registos médicos e policiais, fragmentos de diários, polaroids amareladas pelo tempo, despojos desse mundo que partilharam com elas e, quando se encontram, conversam sobre o sucedido, tentam perceber o motivo que as terá conduzido ao suicídio.
É este o argumento do primeiro filme de Sofia Coppola, baseado no romance homónimo de Jeffrey Eugenides. As Virgens Suicidas é uma obra repleta de humor e ternura, que explora os segredos da feminilidade, do desejo e da morte; um romance sobre essa beleza indissociável da dor que é um dos mistérios mais profundos da nossa existência. Numa das primeiras cenas, o médico visita Cecília, a mais nova das irmãs, após a sua primeira tentativa de suicídio, e pergunta-lhe: «O que estás a fazer aqui, querida? Não tens........
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